ENTREVISTA & DEBATE

BolsoPetismo

Por Gabriel Aviz  -   09/03/2021

Por Gabriel Aviz

Não costumo me manifestar politicamente nas redes sociais porque há algum tempo aprendi a lição de que divergências políticas podem afastar pessoas queridas. É apenas uma certa falta de maturidade de nós brasileiros, levamos tudo para o pessoal. A maioria de nós, analfabetos funcionais, gosta da visão dualista, Lula ou Bolsonaro. Portanto, leia esse texto no qual eu tento alertar para que você não brigue com um amigo ou ente querido por causa da decisão que anulou as condenações de Lula, tornando-o temporariamente elegível. Meu primeiro esforço é esse, o segundo é que você perceba o prejuízo dessa decisão para a sua vida real.

Ontem (08/03) o ministro Edson Fachin deu um duro golpe na segurança jurídica e na democracia brasileira. Uma perigosa tendência autocrática que vem sendo abusada pelos ministros da Suprema Corte: decisões monocráticas. O atestado de impunidade concedido por Fachin a Lula foi uma marca constante desse país por muito tempo. No momento em que escândalos de corrupção grandiosos estavam sendo destrinchados pela Lava Jato e que políticos estavam sendo presos, houve uma força tremenda para que isso acabasse. A Lava Jato persistiu com o massivo apoio popular, mas foi caindo no esquecimento e sendo minada, pouco a pouco. Isso inclui o atual governo que tem participação indireta na decisão de ontem. Ao indicar um garantistq, Kassio Nunes, para o STF, Bolsonaro fez o mesmo que Dilma quando indicou Fachin: plantou um juiz que pode absolvê-lo no futuro ou a seus filhos/aliados.

O cidadão médio deve perceber com esses casos que a “rivalidade” Lula x Bolsonaro é mais um teatro do que a realidade, eles têm os mesmos objetivos escusos de se perpetuar no poder e usufruir de privilégios, inclusive da impunidade que voltou com força total. Passou do tempo do brasileiro entender que são os maus políticos contra nós (sim, existem bons políticos). É o alto escalão político-jurídico contra todos nós mortais, pagadores de impostos, que sustentamos o 2º Congresso mais caro do mundo, ao custo de 7,4 milhões por ano a cada parlamentar, 25x menos que um parlamentar britânico. Também temos o Judiciário mais caro do mundo que custa 1,3% do PIB brasileiro, 4x mais que Alemanha, 7x mais que Itália e 10x mais que EUA, Chile e Argentina. Portanto, a decisão de ontem e muitas outras tomadas pelo STF e pelo Congresso devem causar uma indignação contra todo esse sistema de privilégios que blinda políticos e juízes, pagos com o nosso dinheiro.

As manifestações devem ser no sentido de aprovação da Reforma Política e Administrativa para que atrocidades como essa não possam acontecer, precisamos diminuir o estado começando pela cúpula dos poderes. Em 2010, com muita dificuldade o brasileiro foi às ruas para aprovar a Lei da Ficha Limpa, mas o STF simplesmente está ignorando essa lei, que nós aprovamos! O que aconteceu ontem deve servir de combustível para que em 2022 não tenhamos que decidir entre Lula e Bolsonaro. Não podemos mais perpetuar os maus políticos no poder. A única saída definitiva que temos é o voto, mudar os participantes do jogo na tentativa cega de que, um dia (quiçá) eleja-se uma maioria de políticos (e juízes políticos) que se preocupe de fato com o país e não com o próprio umbigo.

Gabriel Aviz -  Cientista Político

 
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